• CLIQUE NAS FOTOS E VEJA AS HISTÓRIAS POR TRÁS DE CADA SORRISO!

    .

    Sorriso 204



    Desde o meu primeiro voo em 1982 nada era tão... Peculiar.
    O comandante Osvaldo me olhou de cima abaixo e apenas avaliou.
    - O senhor vai sentado no meio.
    Era como um fusca com asas. Pequeno, apertado, sem lugar para pernas direito. Principalmente pernas grandes como as minhas.
    Na frente foram dois, um deles Osvaldo, claro, e lá atrás os outros quatro. Hélices, barulho, cinto e rolamos na pista macio. A estrada lá em cima parecia cheia de buracos e o bicho balançava.
    Alguém chutou que a velocidade era de uns 100 quilômetros por hora. Quando descobri que era três vezes mais preocupei:
    - Nenhum fusca anda tão veloz.
    E começa a contação de causos lá atrás.
    “- Aqui na região a gente tem os peixes com a sílaba
    CU na frente: Curimatã, Cuiucuiú,... no meio: Tucunaré, bicuda, etc...  tem os que tem o CU no final: pirarucu, pacu, aracu, tambacu... Sabe a conclusão que a gente chega?”
    Ninguém sabia. O contador concluiu:
    “Eita povinho pra gostar de peixe!”  Todos rimos. Uma hora e dez passaram literalmente voando.
    E pousamos bem. Uma pista pequena, de barro que era ao mesmo tempo pista e avenida principal de ligação para a cidade.
    Enquanto o pequeno avião taxiava pela janela eu via casinhas logo ali, cavalos, meninos correndo. Professores faziam um protesto e fogos explodiam no ar. Um carro de som anunciava nossa chegada e fomos em direção à cidade em carreata.
    Andamos, gravamos, almoçamos e voltamos.
    Ai, o Osvaldo não estava tão sorridente. Estava concentrado por demais.
    - Um vai ter que ir de carro... – E lá se foi um companheiro.
    Nosso comandante estava preocupado com o tamanho da pista para levantar voo e a densidade do ar. Ajeitamos. Agora dois na frente e três atrás. Eu no meio. Pista, motor, curva, curva, curva... Parou. Não fez a curva. Desce um, pra ajudar a empurrar. Não deu. Pesado. Desce outro. Empurra. Manobra. Quase. Olha cerca. Tem um cavalo na pista. Grito surdo, Osvaldo orienta. Osvaldo é ruim de mímica. Barulho da hélice. Desce todo mundo. O prefeito vem correndo, empurra também. O avião gira. Tá no ponto. Zueira. Embarca rápido. Motor, motor, motor... Parte... Nada de subir... Pista,roda, pista, roda, pista, menos pista, menos pista, menos...
    Quem contava o causo de frente pra mim agora se afunda na cadeira e repetia rindo amarelo:
    - Sobe! Sobe! Sobe!
    Eu nada via de costas. Aquilo durou, agora na memória, uns quarenta minutos. Eu apertava a poltrona doido pela sensação de não ter mais chão.
    - Sobe! Sobe! Sobe! – E o fusquinha alado subiu. E sacolejou, rabeou, fez com a gente sentisse bem, que ali éramos uma coisa só. Ao gosto dele. E do Osvaldo. E das nuvens. E de qualquer vento. Ícaros.
    A minha sensação é que fizemos quase noventa graus na cabeceira da pista. Mas nem deve ter sido.
    O resto da viagem foi de silêncio e vigília. Sacode, segura. Treme, alerta. Até a chegada tranquila em solo na pista de asfalto.
    Minha vontade ao descer era imitar aquele Papa e beijar o solo. Só o calor ardia nos pés. Passei.
    Osvaldo veio com um aperto de mão sincero e uma cara de paisagem. Com um sorriso bacana ele apenas perguntou:
    - E aí? Gostou?
    Acho que valeu pela história, pela aventura, pelas pessoas que conheci. Mas, no fundo, no fundo mesmo, até agora, não sei.
     

    0 sorriram também:

    Postar um comentário

     

    Visualizações dos sorrisos

    Seguidores