Sorriso 193

É estranho imaginar que minha barba nunca será maior do que ela fica.
Estranho saber que não serei mais jogador de futebol, cantor de rock, mas mesmo assim sou feliz, muito, naquilo que faço.
Estranho que de fato, talvez, não vá à lua, talvez não tenha um carro voador e daqui há uns 40 ou 50 anos não estarei mais aqui.
Estranho ter certeza que alguns lugares que conheci como o Palácio Monroe, o cinema São Luiz e o Maracanã nunca mais serão aqueles que eu tenho na memória. Apenas por conta do futuro, do novo tempo ou de um capricho humano.
Estranho descobrir caminhando na avenida enorme que sou apenas mais uma história, porém a história que conto da melhor forma possível, nem que seja pra mim mesmo, todos os dias.
Estranho pensar que algum dia não vou mais jogar bola.
Estranho talvez não ver mais o por do sol no Atacama, as pedras que deturpam o mergulho em Guanabo,  sentir o gosto do helado em Piriápolis ou sentir a força da água na cuca naquela cachoeira da Chapada dos Guimarães.
Saber que tem pessoas que não vou ver nunca mais.
Saber que outras nunca vou conhecer.
Estranho não votar mais no Brizola, não ver gol do Zico ou ver meu avô gargalhar.
Estranho não ter mais saco para algumas coisas e para outras ter toda paciência do mundo...
Estranho me sentir cada vez mais tranquilo.
E pensar que muitas dessas impossibilidades me dão essa pressa e essa vontade cada vez maior para fazer coisas novas.
Pode parecer estranho pedir um sorriso a um estranho... Mas não é.
E é isso que tenho feito. Afinal, pedimos tantas coisas.
Sorrisos que tem me trazido uma estranha felicidade.
Daquela que faz a gente ter certeza que tudo que a gente faz, por mais estranho que pareça, vale muito a pena.